Sonoridades

Um aroma musical


The Last Rose marca a estreia de Laura Wright, a solo.
Neste album, a cantora apresenta-nos uma coleção de várias canções tradicionais inglesas, escocesas e irlandesas.
A inspiração veio de um livro de músicas que a família foi passando de geração em geração e que a avó lhe ofereceu. The Last Rose of Summer estava logo na primeira página e tinha um significado especial para a avó: quando era criança, a sua  mãe  costumava cantá-la.
Com este disco, Laura Wright de 20 anos deixa de lado a participação no grupo All Angels que tanto sucesso fez no Reino Unido e dedica-se agora a uma carreira a solo.
Atualmente estuda no Royal College of Music onde aperfeiçoa a sua melodiosa voz de soprano.


O disco inclui:


  1. The Last Rose Of Summer
  2. I Know Where I'm Going
  3. Scarborough Fair (Featuring Craig Ogden)
  4. Drink To Me Only With Thine Eyes
  5. Blow The Wind Southerly
  6. Now Sleeps The Crimson Petal
  7. O Waly Waly
  8. Skye Boat Song
  9. Down By The Salley Gardens
  10. The Ash Grove
  11. My Bonnie Lies Over The Ocean
  12. Lavender's Blue






The Last Rose (Decca) - Laura Wright e Royal Phillarmonic Orchestra
(arranjos orquestrais de John Rutter, Patrick Hawes e Paul Mealor)











Site:
http://laura-wright.co.uk


Twitter:
http://twitter.com/thelaurawright


Facebook:
http://www.facebook.com/LauraWrightMusic

Instantes Musicais

Do Sonho à Realidade


Num destes dias de verão, enquanto descia a movimentada Rua Garret em Lisboa, algo despertou a minha atenção: Uma agradável melodia ecoava por ali.
-"Alguém toca saxofone !" - Pensei eu.
Episódios destes acontecem todos os dias...eu sei...! Principalmente no Chiado ! Mas eis que chego ao fim da rua.
O jovem músico tocava animadamente num invulgar instrumento de cana (trabalho artesanal, com toda a certeza). Fiquei realmente surpreendida. Como é que um instrumento daqueles podia ter um som assim...? Talento musical... e perícia artesanal...sem dúvida...!!!
Ao seu lado, um cartaz dizia qualquer coisa como: "Solicito a vossa ajuda a fim de arranjar dinheiro para um saxofone de verdade".
Naquele momento pensei: " Se este rapaz toca desta forma com este instrumento, como será com um saxofone verdadeiro...?"
Vim embora com aquele episódio no pensamento...
Um músico e o seu sonho...

Hoje...ao subir a mesma rua de Lisboa, ouço um som idêntico mas mais potente..."com presença".
Quando olho, lá estava ele...no mesmo sítio. Exibia agora um belo saxofone.
Desta vez, o cartaz dizia: "Hoje não estou aqui para pedir dinheiro mas simplesmente para agradecer. Finalmente consegui o dinheiro necessário para arranjar o meu saxofone."
Continuei a subir a rua. Nos meus lábios, um sorriso emocionado...
Aquele sonho tornara-se realidade !!!

Nova Temporada no São Carlos

Concerto de Abertura (Ciclo de Homenagem a Liszt)

Iniciou-se ontem um novo ciclo de concertos no Teatro Nacional de São Carlos com três grandes obras de três grandes compositores.
A abrir, Richard Strauss e o retumbante Also sprach Zarathustra. Um maravilhoso começo que antevia uma grande noite. Logo a seguir ao Intervalo, Mephisto Walzer de Franz Liszt e para terminar, Anton Bruckner e o seu admirável Te Deum.
O Coro do Teatro Nacional de São Carlos teve nesta última obra um dos melhores desempenhos de sempre.

RICHARD STRAUSS (1864-1949)
Also
sprach Zarathustra

FRANZ LISZT (1811-1886)
Mephisto Walzer n.º 1, S. 110/2

ANTON BRUCKNER (1824-1896)
Te Deum


Soprano Dora Rodrigues
Meio-soprano Maria Luísa de Freitas
Tenor Mário João Alves
Barítono Luís Rodrigues

Direcção musical Martin André

Orquestra Sinfónica Portuguesa
Coro do Teatro Nacional de São Carlos






Próximos Concertos na Sala Principal do Teatro Nacional de São Carlos:

Temporada Sinfónica 2011/2012

 .05/11/2011 (Ciclo de Homenagem a Liszt)

HECTOR BERLIOZ (1803-1869)
Abertura, O Carnaval Romano, op. 9

FRANZ LISZT
(1811-1886)
Concerto n.º 2 para piano e orquestra, em Lá Maior
Fantasia húngara, S. 123 (Fantasia sobre Melodias Tradicionais Húngaras)

ROBERT SCHUMANN (1810-1859)
Sinfonia n.º 1, em Si bemol Maior, op. 38, Primavera


Piano Plamena Mangova

Direcção musical Emmanuel Plasson

Orquestra Sinfónica Portuguesa

 .12/11/2011 (Ciclo de Homenagem a Liszt)

FRANZ LISZT (1811-1886)
Sinfonia Fausto, S. 108

Tenor Thomas Mohr

Direcção musical Michael Zilm

Coro Lisboa Cantat
Coro do Teatro Nacional de São Carlos
Orquestra Sinfónica Portuguesa

 .19/11/2011 (Ciclo de Homenagem a Liszt)
ANTÓNIO PINHO VARGAS (n.1951)
Onze Cartas
para orquestra sinfónica, 3 narradores (pré-gravados) e electrónica *

GUSTAV MAHLER (1860-1911)
Sinfonia n.º 5, em Dó sustenido menor

*Encomenda da Casa da Música, CCB e Teatro Nacional de São Carlos


 Direcção musical Diego Masson

Orquestra Sinfónica Portuguesa


26/11/2011 (Ciclo de Homenagem a Liszt)

JOHANN SEBASTIAN BACH (1685-1750) / OTTORINO RESPIGHI (1879-1936)
Passacaglia, em Dó menor, BWV 582

FRANZ LISZT (1811-1886)
Concerto n.º 1 para piano e orquestra, em Mi bemol Maior
Malédiction, S. 121

JOHANNES BRAHMS (1833-1897)
Sinfonia n.º 3 em Fá Maior, op. 90

Piano Hong Xu
Direcção musical Johannes Stert

Orquestra Sinfónica Portuguesa

 .31/03/2012 (Ciclo Rakhmaninov e a Música Russa)

NIKOLAI RIMSKI-KORSAKOV (1844-1901)
Noite de Maio, Abertura

SERGUEI RAKHMANINOV (1873-1943)
Paganini Variations

ALEKSANDR SCRIABIN (1872-1915)
Sinfonia n.º 2, em Dó menor, op. 29

 Piano António Rosado

Direcção musical Gints Glinka

Orquestra Sinfónica Portuguesa

 .07/04/2012 (Ciclo Rakhmaninov e a Música Russa)

ANTON ARENSKI (1861-1906)
Variações sobre um tema de Tchaikovski, op. 35a

SERGUEI RAKHMANINOV (1873-1943)
Concerto n.º 2 para piano e orquestra, em Dó menor, op. 18

SERGUEI PROKOFIEV (1891-1953)
Sinfonia n.º 5, em Si bemol Maior, op. 100

 Piano Filipe Pinto-Ribeiro

Direcção musical
Dmitri Liss

Orquestra Sinfónica Portuguesa

 .12/04/2012 (Ciclo Rakhmaninov e a Música Russa)

A Orquestra Gulbenkian no São Carlos

JOLY BRAGA SANTOS (1924-1988)
Sinfonia n.° 4, op. 16

SERGUEI RAKHMANINOV (1873-1943)
Concerto para piano e orquestra n.° 3, op. 30

 Piano Sequeira Costa

Direcção musical Pedro Neves

Orquestra Gulbenkian

 .13/04/2012 (Ciclo Rakhmaninov e a Música Russa)

A Orquestra Sinfónica Portuguesa na Gulbenkian

DMITRI CHOSTAKOVITCH (1906-1975)
Excertos de Ovod, op. 97

SERGUEI RAKHMANINOV (1873-1943)
Concerto n.º 1 para piano e orquestra, em Fá sustenido menor, op. 1
PIOTR ILITCH TCHAIKOVSKI (1840-1893)
Sinfonia n.º 1, em Sol menor, op. 13

 Piano Artur Pizarro

Direcção musical Martin André

Orquestra Sinfónica Portuguesa

 .21/04/2012 (Ciclo Rakhmaninov e a Música Russa)

MIKHAIL GLINKA (1804-1857)
Uma noite de Verão em Madrid (Abertura Espanhola n.º 2)

SERGUEI RAKHMANINOV (1873-1943)
Concerto n.º 4 para piano e orquestra, em Sol menor, op. 40

DMITRI KABALEVSKI (1904-1987)
Dança Lírica (de Romeu e Julieta), op. 56

DMITRI CHOSTAKOVITCH (1906-1975)
Sinfonia n.º 9, em Mi bemol Maior, op. 7

 Piano Lukas Vondracek

Direcção musical Julia Jones

Orquestra Sinfónica Portuguesa

As teias da paixão

Carmen

Ópera em quatro actos do compositor francês Georges Bizet, com libreto de Henri Meilhac e Ludovic Halévy. Baseia-se na novela homónima de Prosper Mérimée (publicada em 1845) e que terá sido possivelmente influenciada pelo poema narrativo The Gypsies (1824) de Alexander Pushkin.

Bizet começou a compor Carmen em 1873, mas a estreia seria apenas em 03/03/1875, no Opéra Comique de Paris e representaria um escândalo no meio musical parisiense, principalmente para o público conservador daquele teatro. Esta é uma obra altamente original e influente que combina as tradições do opéra-comique (diálogo falado) com um realismo emocional bastante marcado (Verismo).
Apesar do insucesso inicial, a magia de Carmen acabaria por exercer o seu poder de sedução com encantadoras melodias, exotismo e força das personagens. Ganhou a admiração de compositores como Saint-Saens, Tchaikovsky, Brahms, Wagner e até do filósofo Friedrich Nietzsche.
Infelizmente, Bizet morreria tragicamente três meses após a estreia, desconhecendo o sucesso que a ópera teria.
Hoje em dia é uma das óperas mais amadas em todo o mundo.
Muitos compositores utilizaram temas de Carmen como base para o seu próprio trabalho tais como: Pablo de Sarasate em Carmen Fantasy (1883), Franz Waxman em Carmen Fantasie (1946), Vladimir Horowits em Variations on a theme from Carmen, Ferruccio Busoni em Sonatina n.º6 : Fantasia da Camera super Carmen (1920).


Numa praça de Sevilha onde se situa um quartel, alguns militares observam os transeuntes. Micaela aproxima-se, procurando por Don José mas informam-na que ele só estará presente ao render da guarda. Os militares insistem para que se junte a eles enquanto espera, mas a jovem resolve regressar mais tarde.
É a hora do render da guarda e Don José chega acompanhado do tenente Zuniga. Este último diz-lhe que uma bela rapariga andou à sua procura e Don José pensa que deve tratar-se de Micaela (uma orfã que foi acolhida por sua mãe). Zuniga fala-lhe também das mulheres que trabalham na fábrica de tabaco mas Don José só pensa em Micaela e acaba por confessar que gosta dela.
Entretanto, o sino da fábrica anuncia o intervalo. As portas abrem-se e o fumo espalha-se pela praça. As operárias saem fumando os seus cigarros. Entre elas está Carmen, uma bela cigana (o protótipo da mulher fatal).
Ela é livre, independente e senhora das suas decisões. O seu forte temperamento e poder de sedução faz com que os homens se rendam aos seus encantos. Carmen canta a boémia, a liberdade e a paixão, definindo o amor como um pássaro rebelde que não se pode aprisionar:

“L’amour est un oiseau rebelle
Que nul ne peut apprivoiser,
Et c’est bien en vain qu’on l’appelle,
S’il lui convient de refuser…”


Em sinal de desafio e antes de regressar à fábrica, Carmen atira uma das suas flores a Don José deixando-o francamente perturbado. Ele é um homem desconfiado por natureza mas que acaba por se render às “teias” da paixão quando conhece Carmen.
Micaela surge novamente à procura de Don José trazendo-lhe uma carta de sua mãe. Antes que este comece a lê-la, a rapariga afasta-se dizendo que voltará mais tarde para saber a resposta. Ao ler a carta, Don José promete para si próprio que fará o que sua mãe lhe pede: casará com Micaela.
Entretanto, começa um tumulto no interior da fábrica. Duas mulheres envolveram-se numa briga e entre elas está Carmen que desferiu alguns golpes numa colega, deixando-a ferida.
Zuniga ordena a Don José e aos seus homens que prendam a agressora, mas a sedutora cigana consegue fazer com que ele se torne seu cúmplice, ao prometer-he o seu amor. Carmen acaba por conseguir fugir e Don José é preso por ter permitido a sua fuga.
Na taberna de Lillas Pastia, Carmen está na companhia das suas amigas e alguns oficiais, entre eles Zuniga. A cigana espera por Don José que acabou de conseguir a sua liberdade.
Ouvem-se manifestações de júbilo, é Escamillo – o famoso toureiro, que se aproxima. Ao ver Carmen, fica deslumbrado com a sua beleza e começa a cortejá-la.
Lillas Pastia pede a todos os presentes que saiam, pois está na hora do fecho. Na realidade ele aguarda a chegada de Dancaire e Remendado, dois contrabandistas que têm uma proposta para fazer a Carmen e suas amigas. Ao ouvir a proposta, a cigana começa por recusar mas acaba por mudar de opinião perante a possibilidade do seu apaixonado também participar na operação de contrabando.
Finalmente chega Don José e Carmen tenta convencê-lo a juntar-se a ela e aos contrabandistas. Don José recusa mas Zuniga aparece repentinamente para o atacar. Dancaire e Remendado conseguem neutralizá-lo e desta forma, obrigado pelas circunstâncias, o soldado vê-se forçado a desertar e parte com a cigana.
Num desfiladeiro, os contrabandistas fazem os preparativos para a entrega dos produtos. Carmen e D. José não se entendem um com o outro e a cigana diz-lhe que já não gosta tanto dele. Descontente com a sua vida, ela resolve adivinhar o seu futuro com as cartas, que acabam por revelar um mau presságio: A morte.
Com a ajuda de uma guia, chega Micaela com a esperança de convencer Don José a voltar para casa de sua mãe. Entretanto ouve-se um disparo. Um intruso aproxima-se e por pouco não é baleado, trata-se de Escamillo, que desconhecendo a identidade do seu interlocutor (Don José), lhe conta que está à procura de Carmen por quem está perdidamente apaixonado.
Os dois envolvem-se numa disputa que é interrompida pelos contrabandistas e Escamilho acaba por abandonar a cena.
Micaela, que logo após os disparos se tinha escondido é agora descoberta por um dos contrabandistas. Ao sair do seu esconderijo, pede a Don José que a acompanhe pois sua mãe está a morrer. Ele acompanha-a e despede-se de Carmen prometendo voltar.
Em Sevilha, em frente à praça de touros todos aguardam a chegada dos toureiros. Uma amiga avisa Carmen que Don José se encontra por perto e que ela deverá partir mas a cigana recusa.
Quando finalmente se encontram, Don José pede a Carmen que volte para ele, ela recusa dizendo-lhe que o seu coração pertence a outro e atira-lhe o anel que Don José lhe oferecera. Cego de ciúme, ele atinge-a mortalmente com uma faca.
Assim que se apercebe do seu acto tresloucado, ajoelha-se arrependido junto ao corpo da amada, confessando o crime.


Fim de temporada com chave de ouro, no São Carlos !
Foi sem dúvida a melhor ópera. Talvez por isso, os bilhetes tenham esgotado (segundo ouvi dizer).
A música é soberba e logo aí…temos de nos render…!
Intérpretes e orquestra proporcionaram excelentes momentos musicais. Os cantores eram muito bons especialmente Rinat Shaham (Carmen) e Andrew Richards (Don José).
Carmen teve uma excelente interpretação, tanto a nível lírico como dramático, tendo encarnado muito bem o papel da sedutora cigana que enfeitiça os homens; entre eles Don José , um homem dividido entre o amor por Micaela e a paixão fatal que sente por Carmen.





Sobre o compositor – Georges Bizet (1838 / 1875)


Georges Bizet nasceu em 25 de Outubro de 1838, em Paris.
O seu pai era professor de canto e a mãe era pianista (foi dela que recebeu as primeiras lições de piano).
É com o incentivo familiar que entra para o Conservatório de Música de Paris, muito precocemente (aos nove anos de idade). A partir daí começa a destacar-se como intérprete e compositor.
Em 1855, com apenas 17 anos compõe a Sinfonia em Dó Maior. Dois anos mais tarde é agraciado com um prémio oferecido por Jacques Offenbach pela ópera cómica Le Docteur Miracle.
Em 1858 Bizet vai estudar para Roma. Durante esse período compõe a ópera buffa Don Procopio. 
Em 1860 regressa a Paris e dedica-se inteiramente à composição. Nesse mesmo ano começa a compor a Sinfonia Roma em Dó Maior, cuja estreia seria apenas em 1868.
Em 1863 compõe a ópera Les Pêcheurs de Perles (sua primeira grande obra). Dessa época é também a ópera La Jolie Fille de Perth, a famosa Suíte L'Arlesienne, a peça para piano Jeux d'enfants e a ópera Djamileh.
É em 1875 que Bizet compõe a sua última e mais famosa ópera: Carmen, que é uma das mais representadas em todo o mundo. Escrita com base na novela homónima de Prosper Mérimée, a composição de Carmen teve a influência de Giuseppe Verdi, usando uma mezzo-soprano como personagem principal - a cigana Carmen. Na altura da estreia, Bizet foi acusado de "Wagnerismo".
Não teve êxito imediato, apesar do mérito reconhecido por compositores como Saint-Saëns, Tchaikovsky, Debussy e Brahms que considerou Carmen como a maior ópera produzida na Europa desde a Guerra Franco-Prussiana.
Bizet não viveu o suficiente para ver o sucesso da sua obra pois morreu de ataque cardíaco aos 36 anos de idade, três meses após a estreia de Carmen.
Foi sepultado no Cemitério do Père-Lachaise, em Paris.
Embora tenha ficado famoso como compositor, Bizet também foi um grande pianista, elogiado inclusive por Franz Liszt, que o considerou um dos melhores executantes de toda a Europa.
Este músico dotado viu a carreira "travada" devido às suas próprias inseguranças. A procura pela perfeição era constante, o que fez com que deixasse muitas obras inacabadas. Cerca de quarenta óperas nunca passaram da fase de esboço.
Das óperas que Bizet conseguiu terminar, nenhuma conseguiu atingir a fama de Carmen. Aliás, é a ela que Bizet deve a sua celebridade póstuma.
Com Carmen, Bizet mudou o curso da ópera francesa iniciando um estilo dramático realista com música cheia de sensualidade que atingiu o clímax décadas mais tarde.

Lindíssima abertura a desta ópera:

http://www.youtube.com/watch?v=PQI5LtRtrb0&feature=related








As aventuras e desventuras de um chapéu de palha

Il Cappello di Paglia di Firenze

Composta por Nino Rota entre 1945 e 1955, esta ópera é uma farsa musical em 4 actos, bem ao estilo de Rossini.
Baseia-se na peça Le Chapeau de Paille d’Italie, de Eugène Labiche e Marc Michel. O libretto é da autoria do próprio Nino Rota e de Ernestina Rota, sua mãe.
A estreia teve lugar no Teatro Massimo (Palermo) em 21/04/1955 e foi um sucesso imediato, tendo recebido críticas muito positivas, tanto em Itália como no estrangeiro.
Nino Rota desenvolve uma notória habilidade no tratamento da instrumentação. O sentido dramatúrgico do compositor também é factor dominante nesta ópera cómica que nos apresenta uma mistura de estilos, passando pelo Vaudeville (género de entretenimento de variedades predominante nos EUA e Canadá nos finais do séc. XIX e princípios do séc. XX), pela Òpera Buffa (termo usado para descrever a versão italiana da ópera cómica) e pela Opereta  (estilo de ópera leve, tanto na sua substância musical como no conteúdo do assunto; é também proporcionalmente mais recitativa do que uma ópera séria).
Em 1975, uma versão cinematográfica de Il Capello di Paglia di Firenze, conduzida por Nino Rota foi levada aos palcos do Cinecitta.

A acção decorre em Paris no dia em que Fadinard se casa com Elena, sua amada. O feliz acontecimento é antecedido de algumas contrariedades que chegam mesmo a por o casamento em risco.
Tudo começa quando o cavalo do noivo resolve comer o chapéu de palha de Anaide quando esta se encontra na companhia de Emílio, um oficial (supostamente seu amante).
Anaide recusa-se a voltar para casa sem o chapéu, pois o marido não pode desconfiar de nada.
Pressionado pelos dois amantes, Fadinard parte em busca de um chapéu de palha idêntico. Percorre incansavelmente as lojas de Paris e numa delas indicam-lhe o nome de uma compradora: a Baronesa de Champigny.
Na mansão da Baronesa tudo está a postos para receber Minardi, o famoso violinista Italiano. A sala está repleta de convidados que aguardam ansiosamente a chegada do virtuoso. Quando Fadinard chega, gera-se um equívoco: todos o tomam pelo famoso violinista e ele aproveita a oportunidade para pedir o chapéu à Baronesa. Esta traz-lhe um chapéu preto e que nada tem a ver com o que Fadinard pretende. Questionada sobre o paradeiro de um Chapéu de Palha de Florença, a Baronesa responde que  o ofereceu à afilhada, a Madame Beaupertuis.
Enquanto isso, Nonancourt, o pai da noiva chega à mansão acompanhado do cortejo nupcial. Eles haviam seguido Fadinard e entram na sala de jantar julgando tratar-se do banquete nupcial. Juntam-se aos convidados da Baronesa, festejando alegremente, mas eis que, surge o tão esperado violinista.
Os momentos que se seguem são de total confusão: os convidados da Baronesa gritam pela polícia e Fadinard abandona rapidamente a mansão, seguido do caricato cortejo nupcial.
Em casa de Beaupertuis, este está consumido pelo ciúme. Sua esposa saiu de manhã e ainda não voltou. Fadinard arrisca novamente a sorte à procura do chapéu; vira a casa do avesso e nada. Indignado, Beaupertuis tenta pô-lo dali para fora.
Entretanto, Nonancourt chega acompanhado da noiva e respectivo cortejo nupcial pois julgam ser aquela a casa do noivo.
Elena, envergonhada e nervosa com a noite de núpcias, dirige-se para o “leito nupcial”.
Na sala, Fadinard conta a Beaupertuis toda a história que envolve o chapéu de palha, mostrando até um pedaço que restou dele. Beaupertuis fica perplexo, pois…quando a sua esposa saiu de casa nessa manhã, levava um chapéu precisamente igual. Com toda a certeza que é dela que Fadinard fala.
São interrompidos por vozes vindas dos aposentos e Beaupertuis vai averiguar o que se passa. Seguem-se gritos de espanto. Beaupertuis não entende o que está aquela gente toda ali a fazer e Fadinard fica estupefacto ao ver a sua noiva.
Esclarecido o equívoco, o noivo resolve regressar a casa, mesmo sem chapéu. Todos o seguem, inclusive Beaupertuis, que sai de casa armado para ir atrás da sua esposa.
Já perto da casa de Fadinard, o cortejo nupcial tenta abrigar-se da chuva que começa a cair intensamente.
Nonancourt pretende cancelar o casamento e devolver todos os presentes mas Elena recusa dizendo que ainda ama Fadinard. Vézinet (o tio da noiva) tenta recuperar o presente que tinha oferecido ao casal: nada mais, nada menos que…um belo Chapéu de Palha de Florença. Fadinard fica eufórico, mas os momentos que se seguem são de grande azáfama.
Na praça onde se encontram, existe um posto policial e assim que os guardas vêm todos aqueles embrulhos, pensam tratar-se de objectos roubados e desatam a prender toda a multidão.
O chapéu entretanto desapareceu, Nonancourt tinha-o em seu poder, quando foi detido. Chega Beaupertuis, com o intuito de matar a esposa que o traiu e Fadinard esconde Anaide, disfarçando-a de sentinela.
Emílio consegue recuperar o chapéu e atira-o pela janela do posto policial mas por azar, ele fica preso num candeeiro. Quando finalmente conseguem soltá-lo, Anaide coloca-o e aparece diante do seu marido devidamente trajada.
A aventura termina da melhor forma.
Ao ver a sua esposa com o chapéu, Beaupertuis fica verdadeiramente arrependido por ter duvidado dela.
Nonancourt apercebe-se da boa acção do genro e desiste de cancelar o casamento.
Os convidados são libertados e o desfecho não podia ser mais alegre.

Entre 14/05 e 21/05 o Teatro Nacional de São Carlos acolheu esta  animada ópera (num total de 5 récitas). Comparativamente com outras do mesmo género, Il Capello di Paglia di Firenze está muito bem conseguida. Musicalmente agradável e com um sentido de humor apurado, tem também uma história consistente e bem estruturada.
O Encenador, Fernando Gomes fez um óptimo trabalho de direcção das personagens e nota-se também uma excelente coordenação entre os intérpretes e a orquestra, pelo que é de salientar o bom trabalho do maestro João Paulo Santos.
Os cantores estiveram todos muito bem, com especial destaque para: Nonancourt (José Fardilha), Anaide (Dora Rodrigues), Beaupertuis (Luis Rodrigues), Baronesa de Champigny (Maria Luisa de Freitas).


Sobre o compositor - Nino Rota (1911 / 1979)

Nasceu em Milão no seio de uma família de músicos.
A sua mãe era pianista e filha do compositor italiano, Giovanni Rinaldi.
Estudou no Conservatório de

Milão e no Conservatório de Sta Cecília em Roma (1929/1930).
Nino Rota começou a compor muito novo. Tinha apenas 11 anos quando estreou (em 1923) a sua primeira oratória: L’Infanzia de San Giovanni Battista.
Depressa se torna famoso enquanto compositor e maestro.
Em 1926 compõe a comédia lírica Il Princípe Porcaro.
Em 1831 encorajado por Arturo Toscanini, vai para os EUA e ganha uma bolsa de estudos no Curtis Institute of Philadelphia onde frequenta aulas de composição e direcção de orquestra. É por esta altura que descobre a música americana, (nomeadamente de George Gershwin) e começa a interessar-se por cinema.
Alguns anos mais tarde, regressa a Itália onde se licencia em Literatura na Universidade de Milão.
Em 1937 inicia carreira como docente.
O período mais produtivo da sua carreira como compositor, ocorreu entre 1940/1950. Durante esse período, chega a compor dez bandas sonoras por ano.
Em 1950 assume a direcção do Conservatório de Bari, cargo que mantém até à data da sua morte, em 1979.
A produção musical de Nino Rota abarca vários géneros musicais. Para além de música orquestral e coral, compôs ainda cerca de 10 óperas, 5 bailados e mais de 150 bandas sonoras para filmes italianos e estrangeiros.
Ao longo da sua carreira foram muitas as parcerias que estabeleceu com vários realizadores, tais como Federico Fellini (La Strada, Fellini-Satyricon, Armarcord, La Dolce Vita, Roma, etc), Franco Zeffirelli (Romeu and Juliet) Luchino Visconti (Il Gattopardo, Morte a Venezia) e Francis Ford Coppola (The Godfather).
Nino Rota ficará para sempre associado à composição musical para cinema na Itália do pós-guerra.


Uma versão que não a do S. Carlos mas que dá para ter uma ideia desta bela ópera:

http://www.youtube.com/watch?v=aGAurASFeZA
   










Blue Monday e Gianni Schicchi no São Carlos

No passado mês de Fevereiro o Teatro Nacional de S. Carlos recebeu no seu palco, duas pequenas óperas que foram apresentadas conjuntamente.

Blue Monday nunca tinha sido exibida em Portugal e teve agora a sua estreia absoluta. Em temporadas anteriores, duas óperas de Gershwin já tinham passado pelo palco do S.Carlos; foram elas Porgy and Bess (temporada 1972/1973) e Lady be good (temporada 2002/2003).
Gianni Schicchi (de Puccini) é a terceira parte de um conjunto de três óperas, cuja versão original (Il Trittico) estreou no S.Carlos em 1955.
Entre 10 e 19 de Fevereiro, o público do S.Carlos pôde assistir novamente à ópera Gianni Schicchi, mas desta vez acompanhada de Blue Monday.


Blue Monday

Composta por Gershwin, esta é uma ópera jazz com 1 acto, de apenas 25 minutos.
O libretto é do inglês Buddy DeSylva que se baseou no verismo italiano de Il Pagliaci
A estreia foi em 1922 e foi recebida calorosamente. Quando mais tarde, foi apresentada na Broadway não foi tão bem recebida, devido ao seu final trágico.
Uma produção de 1925 (posterior a este insucesso) chegou a dar outro nome à ópera: 135th Street. Blue Monday retrata uma parte da vida nova iorquina pautada pelos sons habituais dos clubes de jazz.


Harlem (Nova Iorque), 21.30.
Vi procura por Joe no café onde tinham ficado de se encontrar. Tom tenta seduzi-la, mas Vi ameaça-o com a arma que o namorado lhe tinha dado e acaba por abandonar o Café quando Mike (o proprietário) a informa que Joe não se encontra por ali.
Enquanto varre o chão, Sam (o empregado) canta Blue Monday: “I got the blues Monday blues” (estou com a neura das segundas feiras).
Para ele este é um dia de azar…
Quando Joe chega ao café, confidencia a Mike que vai usar o dinheiro ganho no jogo para visitar a sua mãe, no entanto não vai mencionar esse facto a Vi, pois ela é muito ciumenta.
Joe vai ao encontro de Vi. Esta diz-lhe que só o ama a ele e que é uma mulher terrivelmente ciumenta, mas enquanto ele for sincero com ela, Vi só viverá para ele. Entretanto Joe tem de se ausentar por uns instantes, pois está à espera de um telegrama.
Tom “envenena” Vi dizendo-lhe que o telegrama é de uma mulher. Furiosa, ela acusa Joe de infidelidade mas ele afasta-a e Vi acaba por disparar a arma que transporta consigo.
Quando finalmente consegue tirar-lhe a carta lê: “Não precisas vir agora, Joe. A mãe morreu há três anos” (a carta estava assinada pela irmã).
Arrependida, Vi pede perdão a Joe…ele concede-lho mas já é tarde demais.
Joe prepara-se agora para ir ao encontro da mãe…no céu…


George Gershwin (1898/1937) foi um compositor e pianista americano que ficou conhecido pela sua colaboração em inúmeros espectáculos da Broadway, juntamente com o seu irmão Ira Gershwin.

Filho de pais russos que emigraram para os EUA em finais do séc. XIX, nasceu em Brooklyn em 1898.
Aos 10 anos George Gershwin começa a interessar-se por música, mas é com 12 anos (quando a família adquire um piano para o seu irmão) que esse interesse aumenta, tendo começado a frequentar aulas de piano com um vizinho.
Com 16 anos de idade abandona os estudos para seguir a carreira musical como pianista e compositor.
Com apenas 17 anos publica a sua primeira canção: "When You Want ‘Em You Can’t get ‘Em, When You’ve Got ‘Em, You Don’t Want ‘Em".
Em 1917 Rialto Ripples é um sucesso comercial.
Em 1918 três canções suas são aceites em espectáculos da Broadway.
Em 1919 compõe Lullaby para quarteto de cordas e estreia o primeiro espectáculo completo na Broadway: La Lucille.
A partir de 1920 inicia uma colaboração frequente com Buddy DeSylva. Juntos criam Blue Monday (composta em 1922)
Em 1924 estreia Lady be good e Rhapsody in Blue.
Em 1928 estreia An American in Paris.
Em 1929 George Gershwin é contratado pela Fox Film Corporation para compor uma música para o filme Delicious, desta forma compõe Dream Sequence.
Em 1930 estreia Girl Crazy.
Em 1932 compõe Cuban Overture.
Em 1935 estreia Porgy and Bess.
Em 1936 assina contrato com os Studios RKO e muda-se com o irmão para Hollywood. Colabora em filmes como: Shall we dance, A Damsel in distress,The Godwin follies.
George Gershwin morre um ano depois, no auge da fama durante uma intervenção cirúrgica a um tumor no cérebro.
Em 1937, após a sua morte é nomeado para os Óscares – categoria de melhor canção original: They can’t take that away from me.
É inegável a importância que Gershwin desempenhou na música clássica americana.
Ainda hoje e por todo o mundo, as pessoas sabem praticamente de cor músicas como S’wonderfull, I got rythm, Fascinating Rhythm, Someone to watch over me, Embraceable you.
São músicas que marcaram uma geração mas que continuam presentes nas nossas memórias musicais.
Gershwin foi influenciado por compositores franceses como Ravel e Debussy, mas também recebeu influências de Alban Berg, Dmitri Shostakovich, Igor Stravinsky e Arnold Shoenberg.
Os bailarinos Fred e Adele Astaire foram dos mais talentosos intérpretes nas suas comédias musicais.
George Gershwin foi um dos mais talentosos e bem sucedidos compositores do Séc. XX e um dos que viveu menos tempo, tendo conquistado o respeito de mestres clássicos tão severos como Rachmaninov e Schoenberg.


Gianni Schicchi


É a terceira e última parte de Il Trittico - conjunto de três óperas de 1 acto, compostas por Giacomo Puccini entre 1915/1918.
A primeira, Il Tabarro foi composta em 1916 ao estilo parisiense de Grand Guignol – teatro que se especializava em espectáculos de horror naturalista. O compositor considerou apresentá-la conjuntamente com uma ópera anterior, Le Villi mas o libretista Giovacchino Forzano apresentou-lhe dois trabalhos: Suor Angélica (tragédia sentimental) e Gianni Schicchi (comédia).
Em 1917 Puccini compõe Suor Angélica e no ano seguinte Gianni Schicchi completa Il Trittico cuja estreia seria em 14/12/1918 no Metropolitan Opera House em Nova Iorque.
Embora cada uma destas três óperas possa ser vista como uma obra-prima, muito raramente são apresentadas juntas, pois seria um espectáculo demasiado longo para o público normal de Puccini e demasiado exigente para os recursos de uma casa de ópera.
Logo após a estreia, Gianni Schicchi teve sucesso imediato enquanto as outras duas óperas de Il Trittico não foram recebidas com tanto entusiasmo. Tornou-se muito famosa em Itália, principalmente depois do concurso patrocinado por Edoardo Sonzogno em 1890, no qual se destacou Cavalleria Rusticana de Pietro Mascagni (que ganhou o primeiro prémio).
O libretto de Giovacchino Forzano está escrito de forma satírica e sarcástica e baseia-se no canto XXX do Inferno da Divina Comédia de Dante Alighieri. Dante colocou os seus inimigos pessoais e políticos no inferno, entre eles estava Gianni Schicchi que teria falsificado o testamento de Buoso Donati, deixando a maior parte dos bens para a família Schicchi.
Esta é a única ópera cómica do compositor. À dimensão cómica alia-se uma “aguçada” crítica social, num clima em que as personagens são colocadas numa teia de relações controversas e caricatas.
Notam-se aqui muitas referências à Commedia dell’ arte, forma de teatro popular improvisado que começou no séc. XV em Itália e se desenvolveu na França mantendo-se até ao séc. XVIII.
Em 1920 Puccini foi pressionado a apresentar separadamente as óperas de Il Trittico. Segundo ele esta medida desfazia a concepção original em pedaços.
Em 1926 (após a morte do compositor) Gianni Schicchi é novamente apresentada no Metropolitan Opera House mas desta vez separada das restantes partes, que foram substituídas por Il Pagliaci de Ruggero Leoncavallo.
Em 1975 o mesmo teatro de ópera faz reviver Il Trittico na sua forma original.
Recentemente na época de 2008/2009 Il Triticco foi apresentado no Teatro de Los Angeles, com Woody Allen a estrear-se na direcção de uma ópera.


Florença – 1299.
Em casa de Buoso Donati (um alto membro da burguesia), a família chora a sua morte. Na realidade são “lágrimas de crocodilo”, pois o que pretendem é “deitar mãos” à sua herança.
Rinuccio fica eufórico quando encontra o testamento, pois tem esperança que o tio lhe tenha deixado dinheiro suficiente para poder casar-se com a mulher que ama.
Depois de lerem o testamento, a decepção é total: Donati deixou todos os seus bens ao convento de Santa Reparata.
Rinuccio lembra-se que há uma pessoa que os pode ajudar – Gianni Schicchi, um jurista (pai de Lauretta, a sua amada).
Em casa do morto, Gianni Schicchi desentende-se com Zita (mãe de Rinuccio) e pretende ir-se embora mas Lauretta, intervém; apela à compreensão do pai, cantando a ària mais famosa desta ópera e uma das mais belas do repertório italiano: O mio babbino caro.
Enternecido Gianni Schicchi deixa-se convencer com as doces palavras da filha e resolve engendrar um plano. Começam por esconder o corpo do morto, quando são interrompidos pelo aparecimento do Dr. Spinelloccio (o médico) que pretende saber do estado de saúde de Donati.
Gianni Schicchi deita-se na cama do morto e faz-se passar por Donati. Consegue convencer o médico que acaba por ir embora satisfeito com a rápida recuperação do seu paciente.
O plano continua e resolvem chamar o notário.
Gianni Schicchi toma novamente o lugar de Donati e prepara-se para ler o testamento.
Os familiares começam a esfregar as mãos de contentes e tentam suborná-lo, mas o contentamento dura pouco tempo.
Começa então a leitura do testamento, que para espanto e raiva de todos, deixa apenas alguns bens à família de Donati.
O bem mais valioso (a mula, a casa, os moinhos e as empresas) deixa-os ao “seu devoto amigo Gianni Schicchi”.
Indignados, os familiares começam a saquear os objectos que têm ao seu dispor, levam tudo o que podem enquanto Gianni Schicchi os expulsa de casa.
No meio desta azáfama, Rinuccio e Lauretta estão felizes pois podem finalmente casar-se. O casal interpreta aqui um belo dueto amoroso…verdadeiramente apaixonado, em que recordam o primeiro beijo.
A finalizar a ópera e em jeito de piada, Gianni Schicchi vira-se para o público, como que a desculpar-se pelas tramóias cometidas e diz: “Ora dizei-me se os florins de Buoso podiam ter melhor sorte…Por esta minha facécia fui condenado às chamas do inferno. Seja. Mas com licença do grande Dante, se esta noite vos divertiu, concedei-me então a devida atenuante!”



Giacomo Puccini (1858/1924) nasceu em Lucca (Toscânia) numa família que produziu músicos por várias gerações, especialmente músicos de igreja (organistas).

Estudou órgão com o pai até aquele morrer em 1864 quando o compositor ainda não tinha completado 6 anos de idade. Continuou os estudos de órgão com o tio e mais tarde, com 10 anos começa a cantar no coro da igreja.
Aos 18 anos de idade, Aida (de Verdi) desperta nele uma tal paixão, um instinto musical tão forte que Puccini começa a sentir inspiração para compor óperas.
Com 19 anos substitui o antigo cargo do pai como organista na igreja de San Martino.
Alguns anos mais tarde, consegue uma bolsa de estudos concedida pela rainha Margherita e com a ajuda financeira do tio entra no Conservatório de Milão em 1880. No mesmo ano, com 21 anos compõe Messa, (hoje conhecida como Messa di Gloria) que marca o ponto culminante da longa associação da sua família com a música de igreja e antecipa a carreira de Puccini como compositor de ópera.
Em 1883 graduou-se com o Capriccio Sinfónico .
Em 1884 estreia Le Villi, a primeira ópera de Puccini.
Em 1889 a estreia da ópera Edgar que é recebida com alguma frieza.
Em 1893 estreia Manon Lescaut que foi um grande sucesso (o libretto foi escrito pelo próprio compositor).
Por esta altura, Puccini começa a repartir o seu tempo entre o trabalho e a vida no campo. O compositor tinha comprado recentemente uma Villa (Propriedade) em Torre del Lago (perto de Lucca) e dedicava muito do seu tempo à caça e à pesca. É aqui que compõe algumas das mais importantes óperas do seu repertório.
Em 1896 estreia La Bohème, que é considerado um dos seus melhores trabalhos e uma das óperas mais românticas alguma vez compostas.
Em 1900 estreia Tosca que causa alguma sensação. Puccini introduziu nesta ópera o estilo verismo – corrente literária italiana surgida entre 1875 e 1895 a partir das obras de escritores e poetas que constituíram uma escola baseada num conjunto de princípios realista. O verismo é marcado pelo realismo das descrições da vida quotidiana em especial das classes mais baixas.
Em 1904 é a estreia de Madamme Butterfly (foi recebida com alguma hostilidade mas acabou por se tornar numa das óperas com mais sucesso).
Em 1910 estreia La Fanciulla del West (onde se notam algumas influências de Debussy e Richard Strauss).
Em 1917 estreia La Rondine.
Em 1918 estreia Il Trittico, constituído por 3 óperas: Il Tabarro, Suor Angélica e Gianni Schicchi.
Em 1920 Puccini começa a trabalhar em Turandot, mas acaba por morrer em 1924 (vítima de cancro) deixando inacabada a sua última ópera. Foi enterrado em Milão, mas posteriormente transferido para a Villa em Torre del Lago, agora conhecida como: Villa Museo Puccini (mausoléu onde está o corpo de Puccini e o de sua esposa).
Foi Franco Alfano quem terminou Turandot (as duas últimas cenas).
Quando em 1926 Arturo Toscanini (amigo pessoal de Puccini) dirige a estreia da ópera, resolve não incluir a parte de Alfano; a orquestra chegou mesmo a parar no ponto onde Puccini tinha acabado a partitura. Diz-se que as palavras de Alfano foram: “Aqui termina a ópera, pois neste ponto o maestro morreu”. Foi bastante criticado, por este comportamento.
Em 2002 Berio escreve um novo final oficial, mas esse final nem sempre é interpretado. Há quem diga que a versão de Alfano é mais dramática.
Puccini estava entre os primeiros apoiantes do partido fascista, mas não era um fascista activo, no entanto a propaganda fascista apropriou-se da figura de Puccini e uma das marchas mais difundidas durante as cerimónias públicas fascistas era o Inno a Roma composto em 1919 por Puccini.
Foi o último dos compositores italianos de ópera romântica, mas também compôs peças orquestrais, música sacra, música de câmara e músicas para voz e piano.
As óperas mais conhecidas: La Bohème, Madame Butterfly e Tosca demonstram a sua capacidade de captar a atenção do público com grande intensidade dramática. São normalmente histórias baseadas em casos de amor passional, vingança e traição. Algumas das árias que se tornaram mais famosas, são: O mio babbino caro (Giani Schicchi), Che gelida manina (La Bohéme), Nessun Norma (Turandot).
Uma característica em Puccini é o uso da voz no estilo de discurso (canto parlando).
A sua criatividade melódica genial, o gosto pela combinação de vozes de tenor e soprano e o dom de escolher enredos teatralmente eficazes, tornaram-no num dos mais populares compositores de ópera.


Embora tenham sido apresentadas em conjunto, estas duas óperas são bastante contrastantes.
Blue Monday apesar de ser musicalmente bastante alegre, tem um final trágico enquanto Gianni Schicchi é uma ópera mais leve e bastante divertida. Em comum têm o facto de serem óperas de apenas um acto (a primeira tem a duração de cerca de 25 minutos e a segunda dura cerca de 1 hora).
A começar tivemos a ópera mais dramática. As melodias de Gershwin são sempre agradáveis de ouvir…Gershwin é intemporal; falando de Blue Monday pouco mais há a dizer. A música animada e com ritmo é de facto o melhor desta ópera, que termina de forma tão trágica. A história em si não nos traz nada de novo. Sente-se que falta ali qualquer coisa naquele final tão abrupto. Quanto aos cantores, destacou-se Vi (Laura Giordano), com uma interpretação suave e leve.
Logo a seguir ao intervalo começou Gianni Schicchi. Verdadeiramente irónica e trocista, esta é também uma ópera francamente bem-disposta e melodiosa, que tem uma das mais belas árias: O mio babbino caro. Lauretta canta-a com doçura, simplicidade e sinceridade.
O par amoroso Lauretta / Rinuccio,(Laura Giordano e Leonardo Capalbo) sobressaiu com as suas vozes bem timbradas e melodiosas. Gianni Schicchi (Yannis Yannissis) também se destacou com a sua voz segura e com a sua eficaz interpretação cómica.


Deixo aqui uma bela versão de O mio babbino caro, interpretada por Montserrat Caballé: